quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Myanmar & Bangtao Beach - Bagan - dia 1


A longa viagem que iniciámos em Yangon, por volta das oito da noite, terminou em Bagan por volta das cinco e meia da manhã! Era ainda noite! Liguei para o Kyaw Kyaw (ou Joe Joe como ele diz para lhe chamarmos) e devo tê-lo acordado! O inglês dele é básico mas lá nos entendemos! Ele seria uma espécie de guia durante a nossa estadia em Bagan. Algum tempo depois ele apareceu e apresentou-nos o motorista da carrinha que nos levaria até ao hotel! Como era demasiado cedo ele sugeriu irmos até um dos muitos templos de Bagan e assistir ao nascer-do-sol. Concordámos pois mais valia aproveitar logo do que ter de madrugar num outro dia!

Para entrar na zona arqueológica de Bagan é necessário comprar bilhete. Cada bilhete custou 25,000 Kyats (perto de 18,00€) e é válido por 5 dias. 

E enquanto "seguimos" até ao templo escolhido pelo Kyaw Kyaw, aproveito para vos falar de Bagan, uma das antigas capitais do Reino de Pagan.

A capital do país costumava mudar com a mudança de imperador e, até 1057, Bagan foi ignorada. Nessa altura o rei Anawrahta conquistou a capital do Império Mon e decidiu trazer para Bagan as escrituras sagradas (Tripitaka Pali) e também o rei vencido e os monges que o ajudaram a transformar o local num centro cultural e religioso. Foram então estes monges os responsáveis pela expansão do ramo do Budismo Theravada e pelo desenvolvimento da escrita birmanesa (baseada na escrita mon). Nos finais do século XIII o rei birmanês abandonou a região que foi tomada pelos mongóis, que a terão saqueado e posteriormente abandonado. Até ao século XVIII Bagan foi considerada uma região assustadora e tenebrosa, povoada por espíritos, nats e bandidos.

Agora imaginem mais de dois mil templos, stupas e ruínas espalhados por uma área de uns 40km²!!! A maioria dos templos foi construída entre os séculos XI e XIII mas mais terão sido acrescentados até ao século XX. Há quem diga que chegaram a ser treze mil os templos aqui construídos!

Muitos dos templos ficaram seriamente afectados após o terramoto de 1975 mas o povo birmanês está habituado a reconstruir mesmo que nem sempre respeitando a traça original, nem utilizando os materiais mais adequados. Este é um dos motivos porque o local não estava, à data da minha visita, na lista do Património Mundial da UNESCO. Mas a situação poderá alterar-se em breve para alguns dos templos.

Não é aqui em Bagan que reside a maioria da população mas sim em Nyaung U, que se situa perto. A antiga cidade de Bagan localiza-se na margem Este/Oriental do rio Ayeyarwaddy, a cerca de 145 km de Mandalay, a sudoeste.


Chegámos ao Buledi/Bulethi Paya, o templo em forma de pirâmide onde iríamos assistir ao famoso amanhecer de Bagan. Temos que subir descalços e os degraus são bastante inclinados. Alguns turistas já se encontravam instalados pelo que tivemos que procurar o melhor local possível e que não parecia ser muito seguro... Este não é um templo muito grande mas está relativamente perto do local de onde partem os balões que sobrevoam a zona ao amanhecer. Uma experiência que tem tanto de única como de cara! Os preços começam a partir de $300 por menos de uma hora!
Sentados num dos degraus vamos olhando em volta, fotografando, apreciando a bela paisagem, vendo os balões subirem no horizonte e, por fim, saudamos o aparecimento do sol! Uma experiência inesquecível! 







Do lado esquerdo destaca-se a torre Nan Myint ou Torre de Observação, aqui construída em 2005 e que faz parte do complexo do Aereum Palace Hotel & Resort Bagan. Esta torre não agrada a quase ninguém pelo facto de ter sido construída no meio de uma área de templos antigos. Da torre pode disfrutar-se de  uma bonita panorâmica de 360º.








 



Pouco passava das sete da manhã, quando, tendo por pano de fundo um céu azul e um sol radioso, nos dirigimos ao templo seguinte, o Htilominlo, um dos maiores templos de Bagan. Tem cerca de 46 metros de altura e foi construído em 1218 no local onde o rei Nantaungmya foi escolhido, entre cinco irmãos, para reinar. Infelizmente este foi um dos templos que mais danos sofreu durante o tremor de terra que afectou a região no dia 24 de Agosto, menos de três meses antes desta nossa visita (2016). 






















O templo possui quatro entradas com uma imagem de Buda em cada uma delas. Estes Budas estão ladeados por guarda-chuvas e a explicação vem da lenda que se conta sobre este templo. O rei terá escolhido o seu sucessor colocando-os numa roda com um guarda-chuva no meio. Ao soltá-lo ele cairia e apontaria na direcção daquele que seria o seu sucessor. O "escolhido" pelo guarda-chuva foi o seu filho mais novo, que seria o último numa normal sucessão.
Ainda são visíveis traços dos antigos murais
 


Fomos tomar o pequeno-almoço e de seguida passámos pelo hotel para deixar a bagagem. Disseram-nos que só por volta do meio-dia o quarto estaria pronto. O Kyaw Kyaw levou-nos então a visitar o principal mercado de Nyaung U (Mercado Mani Sithu), a 4 km de Old Bagan. É nesta cidade que pernoitam a maioria dos turistas independentes e mochileiros. O colorido mercado deverá fazer parte de qualquer circuito, pelo menos é o que eu acho, que adoro visitar estes locais, de preferência os que são pouco turísticos, como este. Aqui encontramos de tudo um pouco, de frutas e vegetais a especiarias e artesanato, não esquecendo os típicos "longyi" (sarong).
Troncos de ThanakhaÉ esfregando este tronco numa base molhada com água que se obtém a pasta amarelada que é tradicionalmente utilizada como cosmético natural, protector solar, maquilhagem, etc, e utilizada pela maioria dos birmaneses, principalmente aqui em Bagan.
Folhas de Paan/bétel - Os birmaneses têm por hábito mascar uma mistura de folhas de bétel com noz de areca e mais algumas ingredientes, como tabaco, cal e até especiarias. A mistura forma uma pasta avermelhada que adere aos dentes e parece sangue. É habitualmente cuspida para o chão!!!
A noz de areca - a semente da palmeira de areca, uma das árvores mais populares do mundo
Saquinhos de cal natural ou hidratada - a cal é um dos ingredientes utilizado na mistura de folhas de bétel e noz de areca









A paragem seguinte foi no Shwezigon Pagoda, construído entre 1084 e 1113 na margem esquerda do rio Ayeyarwady. É o principal símbolo religioso de Nyaung U e um dos templos mais conhecidos. Destaca-se pela sua cúpula dourada coberta de folhas de ouro e pela ligação aos 37 Nats (de que já vos falei anteriormente). Infelizmente, e mais uma vez devido ao estragos causados pelo recente tremor de terra, a cúpula estava a ser restaurada estando coberta por uma tela cinzenta. Os locais acreditam que no interior do templo estarão guardados um pedaço de osso e um dente de Siddhartha Gautama (Buda).
















E antes de voltar a passar pelo hotel fomos até um outro mercado.





Quando voltámos ao hotel, por volta das dez da manhã, o nosso quarto já estava disponível pelo que optámos por ficar, descansar um pouco, almoçar e só mais tarde voltar a sair. O Hotel Zfreeti foi o escolhido para a nossa estadia em Bagan,principalmente devido à sua excelente localização, a escassos minutos da principal zona de restauração, e revelou-se uma excelente opção.
Deixo-vos algumas das fotos que constam do site do hotel. O quarto que nos foi atribuído foi um triplo, praticamente igual ao da foto de referência e estava situado no rés-do-chão. Fotos (http://www.zfreeti.com/)






Almoçámos no hotel e, por volta das três da tarde, voltámos a encontrar-nos com o Kyaw Kyaw e o motorista da carrinha para visitar mais alguns templos.

A primeira paragem da tarde foi no Ananda Phaya, um dos templos mais venerados pela população local. Terá sido construído entre 1090 e 1105 pelo Rei Kyanzittha. O templo é conhecido como a "Abadia de Westminster" de Bagan. Ficou parcialmente destruído pelo terramoto de 1975 mas sofreu várias remodelações, o que também estava acontecendo na altura em que o visitámos, devido aos estragos provocados pelo abalo de Agosto. As estupas estavam cobertas por uma estrutura de bambu, típica daqui. Por cima é depois colocado um plástico enquanto duram as reparações. O aspecto limpo e mais claro que apresenta, por ser branqueado de tempos em tempos, faz com que pareça mais recente que a maioria dos outros templos. Também aqui se notam os erros cometidos durante os processos de remodelação/reparação.
Das quatro portas existentes, no formato de cruz grega do templo, só uma está aberta ao público. No seu interior encontra-se uma estátua dourada de Buda com sete metros de altura. Nas paredes estão centenas de pequenos altares com imagens de Buda. Percorrendo um corredor interior encontramos mais três estátuas de Buda, alinhadas com as outras três portas. 








As oferendas monetárias estão à vista de todos. Não se vê ninguém a guardar estes locais pois, ao  que parece, ninguém rouba! Que se mantenham assim! 
A imagem de Buda da porta oeste. Posição
abhaya mudra (sem medo)
Imagem de Buda da porta norte. Uma das duas
estátuas originais. Posição dhammachakka
(
girar a roda do Dharma)
 

No penúltimo templo do dia só podemos ver o exterior devido aos estragos causados pelo abalo sísmico de Agosto (2016). O Sulamani Patho/Guphaya, conhecido como a "Jóia da Coroa", terá sido construído por volta de 1181 por Narapatisithu. Localiza-se perto do Dhmmayangyi, o templo com a maior estrutura de Bagan. No Sulamani, um dos mais sofisticados e atractivos templos, encontram-se alguns dos melhores trabalhos ornamentais, como estuque esculpido em molduras, frontões e pilastras. O templo tem cinco entradas e a os planos horizontais do período inicial com as linhas verticais do período médio, combinadas com os dois andares situados em amplos terraços criaram um efeito de pirâmide!

O antes e o depois do tremor de terra de Agosto de 2016







Pyathadar Paya - o templo escolhido pelo Kyaw Kyaw para assistirmos ao pôr-do-sol. Quando chegámos ainda o sol ia alto mas já muitas pessoas tentavam guardar o melhor local. Ele levou-nos para uma zona lateral do terraço e só mais tarde é que fomos para a zona frontal, tendo conseguido um bom lugar! 

Este templo funcionava como um mosteiro. Embora a maioria dos mosteiros fossem feitos de madeira este foi um dos que fugiu à regra e foi construído em tijolo, uma demonstração da importância do lugar. Data do século XIII e terá provavelmente sido o último grande templo a ser construído durante a dinastia de Bagan. 
O enorme terraço aberto, o maior de Bagan, é um local perfeito para assistir ao pôr-do-sol o que leva a que seja muito procurado! Mais tarde ou mais cedo acredito que as subidas aos templos serão proibidas como forma de os preservar! 




Escadaria de acesso ao terraço exterior
Torre Nan Myint ou Torre de Observação
As entradas nos templos fazem-se sem calçado




São muitas as estupas danificadas e em reparação!


A paisagem envolvente é deslumbrante, fascinante! Por muitas fotografias que aqui publique não conseguirei passar-vos a emoção que se sente enquanto o nosso olhar se perde pela imensidão da planície salpicada de templos!






Quando chegámos ao terraço frontal é que nos apercebemos da quantidade de turistas que já ali estavam!
 









Já era noite quando abandonámos o local. Ao longe dava para ver alguns templos já iluminados! 
O dia já ia longo e ficaria marcado por duas experiências inesquecíveis: assistir ao nascer e ao pôr-do-sol desde um dos muitos templos da planície de Bagan!
Regressámos ao hotel em Nyaung U e mais tarde saímos para jantar num dos restaurantes da zona. O escolhido foi o Bibo Restaurant & Bar. Optámos por uma sopa de noodles, frango e leite de coco; uma deliciosa salada de folhas de chá e um curry de frango com abóbora! Uma excelente refeição por pouco mais de 4,00€ por pessoa, cerveja incluída!

No dia seguinte muito mais haveria para ver pelo que era necessário descansar! 
Bagan, apaixonei-me por ti ao primeiro templo!


4 comentários:

  1. Obrigada amiga, sinto que estou lá, sinto precisamente o mesmo quando dizes que não há fotografia que transmita o que nos fica gravado no coração. Só vivendo. Viajar é essencial para viver, e não é preciso viajar para muito longe, refiro-me ao sair da nossa rotina e ir, porque mais vale ir ... Adoro a tua forma de me levar a viajar.

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    1. Obrigada pelas tuas palavras!
      Espero continuar a "levar-te" comigo por aí...

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