domingo, 13 de novembro de 2016

Myanmar & Bangtao Beach - Yangon - dia 1



O taxista deixou-nos na entrada sul do Shwedagon Pagoda (Pagode em português). Quatro entradas dão acesso ao santuário: a norte, sul, este e oeste mas a principal é precisamente a sul.

Pode-se subir de elevador mas nós preferimos subir pelas escadas que dão acesso ao terraço principal.
A escadaria é coberta e ladeada por várias lojas que vendem flores para as oferendas e também todo o tipo de bugigangas. No início das escadas existem uns cacifos para deixarmos o calçado já que é obrigatório entrar descalço (meias também não são permitidas). Também convém ter atenção ao vestuário, evitando calções, saias curtas e blusas sem mangas.






No cimo da escadaria estão as bilheteiras. O bilhete de entrada custou 8000Ks (€ 5,68). O horário de abertura é o seguinte: diariamente entre as 04:00 e as 22:00. O terraço principal é o do nível intermédio e onde se localizam todos os pagodes menores (pagode = conjunto de estupas mais os templos que as cercam) que rodeiam a stupa central (ou estupa - originalmente eram construídos sobre os restos mortais de uma pessoa importante. Hoje podem ser para guardar relíquias, comemoração de uma data ou como símbolo de aspectos teológicos budistas. Também pode simbolizar o caminho de Buda para a iluminação. Normalmente têm uma base quadrada, uma parte esférica central e um tipo de sombrinha no topo). Existe um outro terraço, superior, que é mais sagrado e onde só os homens locais podem ir. O terraço inferior circunda o templo por fora e é acessível por saídas laterais das escadarias.



Segundo a lenda, o pagode terá sido erguido neste local há cerca de 2600 anos, o que o tornaria no mais antigo do mundo mas existem muitas dúvidas em relação a isso. 
Devido aos muitos terramotos sofreu várias remodelações ao longo dos tempos. 

Segundo a lenda dois comerciantes estavam no país Mon há 2600 anos, logo após Sidarta Gautama ou simplesmente Buda ter atingido a iluminação, e decidiram visitá-lo. (Sidarta ou Siddhartha, foi um príncipe de uma região no sul do actual Nepal que, tendo renunciado ao trono, se dedicou à busca da erradicação das causas do sofrimento humano e de todos os seres, e desta forma encontrou um caminho até ao "despertar" ou "iluminação". Após o que se tornou mestre ou professor espiritual, fundando o budismo - Wikipédia). Terão oferecido a Sidarta bolos de mel e depois pediram-lhe um presente. Terão recebido oito fios de cabelo de Sidarta/Buda. E são estes fios que estarão guardados no Pagode Shwedagon. Mais pormenores aqui.



A partir do século XV a estupa terá recebido a sua cobertura em ouro, após a rainha Shin Sawbu ter doado o seu peso naquele metal precioso (88 libras) para esse fim. O ouro foi transformado em pequenas folhas que foram aplicadas na estupa. Mais tarde o rei Dhammazedi terá feito também uma doação em ouro, desta vez de quatro vezes o seu peso e o da sua esposa, tendo a tradição continuado. Dois sinos de 30 toneladas foram também doados mas ambos foram roubados, o último durante a I Guerra Anglo-Birmanesa. Ambos acabaram afundados no rio mas o segundo foi recuperado em 1926. 



O Pagode, para além de ser um local religioso e de lazer, também já foi palco da vida politica do país. Foi aqui que decorreu o famoso discurso de Aung San Suu Kyi em 1988 e foi também cenário da revolta dos monges em 2007. Também aqui estão sepultadas pessoas importantes, como a última rainha da Birmânia, o ex-Secretário Geral da ONU e a mãe de Aung San Suu Kyi.

Manda a tradição que se inicie a visita ao recinto no sentido dos ponteiros do relógio e assim fizemos. Para além de observarmos os detalhes de todas as construções que nos rodeavam a nossa atenção esteve também muito focada nas pessoas. 
Um dos templos do complexo

A estupa central








A estupa maciça, coberta de folhas de ouro, com 99 metros de altura, assenta numa base octogonal, tem uma cúpula em forma de sino e um pináculo em forma cónica. À volta da base existem 4 estupas menores nos pontos cardeais e entre elas 64 pagodes de estilo. A parte superior da estupa tem incrustados 5448 diamantes, 2317 rubis, safiras e outras gemas e também sinos de ouro. Lá no topo cintila um diamante de 76 quilates!


Algumas imagens de Nats (espíritos)
Sabiam que a semana em Myanmar tem 8 dias? Como é isso possível? Pois bem, a Quarta-feira é divida em duas: de manhã é o Bohdahu e à tarde é Yahu.
Em redor da base do pagode existem altares, divididos pelos dias da semana. A tradição manda que se lave o "nosso" Buda como forma de reverência. Para saber qual o Buda que se deve lavar basta saber o dia da semana em que se nasceu. No nosso caso nascemos os dois à Segunda-feira. Cada altar tem um Buda cuja posição tem um significado e mensagem diferente. Existem umas canecas para retirar a água e assim banhar o Buda.



















São muitas as imagens de Buda que se encontram espalhadas pelo complexo. 
















.



Pouco tempo depois de termos chegado ao recinto iniciou-se um desfile. Não conseguimos saber do que se tratava mas foi uma excelente oportunidade de observar a população. Havia muita gente no recinto mas os turistas ocidentais eram uma minoria.





  



O traje típico de Mynamar é o longyi que é usado tanto por mulheres como por homens. O longyi parece uma saia mas é uma espécie de sarong enrolado à cintura. Os das mulheres são apertados de forma diferente dos dos homens e são muito coloridos e com padrões.

 
 

O longyi masculino é usado pela maioria dos homens. Costumam ser de tom escuro e o nó é dado à frente. Na parte de cima tanto usam camisas como t-shirts.
Acredito que já se questionaram sobre as pinturas faciais exibidas pelas mulheres! Estas pinturas são feitas com thanakha, uma pasta de cor amarelada que é obtida pela mistura de água com um pó obtido pela fricção de um tronco de árvore. É utilizada por mulheres e crianças como cosmético e também como protector solar. Mais tarde voltarei a falar da thanakha, uma tradição birmanesa.

 


Estávamos maravilhados com o local, principalmente com a atmosfera. Homens e mulheres rezam, acendem pauzinhos de incenso aos Budas e Nats (espíritos idolatrados) e fazem-lhes oferendas, dão banho aos "seus" Budas ou sentam-se simplesmente a contemplar, meditar e conviver! Nalgumas zonas do recinto encontrámos famílias inteiras sentadas no chão comendo, conversando ou simplesmente descansando, com as suas melhores roupas vestidas. E depois eram tantos os pormenores decorativos para observar que ficámos por aqui até ao anoitecer. 


 




A sombrinha da grande estupa tem 13 metros de altura e 5 metros de diâmetro. Tem 500 quilos de ouro, 83 850 peças de joalharia (entre diamantes, rubis, safiras e outras gemas). Os sinos de ouro são 4 016. O seu peso total é de 5 000 quilos.

O Pagode Naungdawgyi localiza-se no canto nordeste da plataforma. Tem 46 metros de altura e é uma versão menor do Shwedagon. 
O culto dos Nat é uma prática muita antiga, de cariz popular e anterior ao budismo. De um culto animista, associado à Natureza, evoluiu no sentido da presença de identidades ou espíritos. Acreditam que estes "espíritos" têm domínio sobre pessoas e locais. É uma crença pagã que resiste até hoje e convive com o budismo. Os Grandes Nats são 37 havendo depois muitos outros menores. Estes 37 foram quase todos humanos e terão tido mortes violentas sendo, por isso, espíritos que necessitam ser apaziguados com oferendas feitas pelos fiéis.
As muitas oferendas em frente a um dos muitos altares com imagens de Buda. Eles têm que estar bem "alimentados" e também bem vestidos.

O budismo e o culto dos Nat lado a lado

Parece que o canto da Segunda-Feira é muito concorrido pois não foi fácil conseguir dar banho ao "nosso" Buda sem este estar cercado de gente. Mesmo por detrás da imagem do Buda pode ver-se uma estátua de um dos Nats.



 E de repente olhámos para a grande estupa e andavam monges por lá!

O sol começava a despedir-se de mais um dia e começaram a ser colocados pavios dentro de tacinhas com liquido. Uma senhora passou-me um pau fino com um tipo de algodão na ponta para que eu também ajudasse a acender os pavios.







  E com o cair da noite os monumentos iluminam-se! Vale a pena esperar para assistir. O recinto cada vez estava mais cheio. Como não tinha tripé não consegui fotografias decentes da estupa iluminada.


Eram seis da tarde quando iniciámos a descida da escadaria que nos levaria à saída! Fomos recolher os chinelos e tentar desencardir os pés com umas toalhitas. 
 
Cada entrada é guardada por dois enormes Chinthes (criatura metade leão, metade dragão). À chegada não os vimos pois entrámos lateralmente e à saída estava já muito escuro para fotografá-los. 
Segue-se um pequeno video que junta algumas das filmagens que fiz.

A confusão no exterior era grande e tivemos que nos deslocar um pouco para tentar apanhar um táxi de volta a Chinatown  e ao hotel. Quando chegámos apercebemo-nos que existia um mercado nocturno com muitas bancas de comida e resolvemos dar uma volta antes de encontrar um local para jantar. Não me ia aventurar com comida de rua logo à chegada...
E não me perguntem o que é que aparece em algumas das fotos pois não faço ideia!
Durian - é um fruto tropical, espinhoso, de polpa macia e muito apreciado nalguns países asiáticos. O seu odor é de tal maneira intenso que a sua entrada está proibida em vários estabelecimentos.

Gafanhotos fritos em óleo de palma, um dos petiscos mais apreciados por aqui.



  



  

Encontrar um restaurante em Chinatown deveria ser tarefa fácil mas foi muito complicado! Andámos de um lado para outro pelo meio das bancas e das centenas de pessoas e nada de encontrar um restaurante! Este pessoal adora andar na rua mas jantar no restaurante não é com eles! Acho que andámos a procurar nas ruas erradas. Finalmente lá encontrámos um, o aspecto não era nada de especial e ainda bem que só vi a cozinha depois de ter comido mas a comida estava boa! Pagámos 18 000K pelo jantar (cerca de 13,00€). Mais caro do que noutros países asiáticos. As bebidas, neste caso as cervejas, encareceram a refeição.                                   
De regresso ao hotel voltámos a passar pela zona das bancas e a confusão era enorme, sendo difícil circular entre elas.  





O dia já ia longo, tínhamos deixado Lisboa no dia anterior e o cansaço já era nosso companheiro. Comprámos uma garrafa de água de 1,5l numa loja perto do hotel que custou 300K (0,22€). Voltámos ao hotel onde fui arrumar algumas coisas antes de adormecer profundamente!
Há ainda muito para ver em Yangon, fiquem por aí que eu volto! 


6 comentários:

  1. Super curioso este sítio com todos estes costumes tão diferentes de nós Ocidentais!
    Que bela e preciosa visita guiada. Grata amiga 🙏
    Já estou desejosa de saber o que veio a seguir 😬

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sandra, tenho a certeza que ias adorar o ambiente do Pagode. Há uma espiritualidade no ar que até eu consegui sentir, imagina tu!

      Eliminar
  2. Fantástico relato. Ansiosa pelo dia seguinte. Obrigada

    ResponderEliminar
  3. Bora lá para mais uma aventura! Vai ser uma "pagoda" de pagodes!

    ResponderEliminar